Entrevista ao Ministro da Educação João Costa


   
Como última publicação neste blogue gostaria de refletir um pouco sobre a última entrevista que o Ministro da Educação, João Costa concedeu à Rádio Renascença no passado dia 1 de junho de 2022. Considero que o momento que a profissão docente vive poderá originar mudanças estruturais significativas para a mesma e também para a formação de professores que ainda frequento. Esta entrevista/vídeo tem apenas cinco minutos, mas não é tanto o conteúdo da mesma que me intriga, mas sim como a profissão docente é apresentada, que acabará por ter consequências visto tratar-se do atual ministro da educação.

    A entrevista começa com a questão "... estamos a poucos dias de acabar o ano letivo, quantos alunos é que vão chegar ao fim do ano com falta de pelo menos um professor a uma das disciplinas?", e a resposta do ministro da educação foi "(...) na última atualização tínhamos cerca de 7000 alunos que estavam sem aulas (...)". Primeiro que tudo gostaria de reforçar o quão prejudicial é haver alunos que no final do ano letivo ainda não têm professor a uma determinada disciplina ainda que, para estes 7000 alunos isso não tenha acontecido durante todo o ano, segundo o ministro João Costa. A gravidade da situação está no facto de o acesso ao ensino ser obrigatório e um direito. O estado português, neste caso, tem a obrigação de conceder aos jovens e crianças em idade escolar o acesso a um ensino igualitária e completo, assim como estes têm a obrigação de frequentar a escola até ao 12.º ano ou 18 anos. Quando este direito não é concedido temos de admitir não haver igualdade no acesso à educação em Portugal, e esta afirmação abre um precedente. Se não existem condições para que todas as escolas possam oferecer os "serviços mínimos", como podemos julgar uma família que procura a melhor escola para os seus filhos?! Ao não permitirmos que isso aconteça nas escolas públicas forçamos famílias a aceitar que os seus filhos terão condições de ensino inferiores àquelas que existem na escola vizinha, não sendo esta uma questão de opinião, mas sim factual dada a falta de recursos humanos. 

    Dito isto, gostava que tentássemos colocar-nos no lugar dos futuros professores, agora em formação, que vão entrar para as escolas no espaço de um, dois anos. Estes que assistem a um cenário caótico onde são criadas "task-forces" de professores, aludindo imediatamente a uma emergência. Futuros professores que presenciam, durante os seus estágios nas escolas, uma situação em que aqueles que já o são "de verdade", não têm a formação necessária para tal. Além disso, os professores estagiários, que investiram na sua formação são muitas das vezes orientados por que nem sequer ingressou nos cursos de formação de professores. Este fator associado ao facto de o atual foco no ensino ser a quantidade ao invés da qualidade, fazem com que o futuro da profissão docente seja preocupante, para mim e para todos aqueles que despenderam de dois anos das suas vidas para se formarem adequadamente para desempenharem uma profissão tão importante quanto a de docente. 

    As perspetivas para o futuro de quem atualmente frequenta mestrados de ensino não são animadoras, e passo a explicar o porquê. A tendência que observamos, é a necessidade de chamar para as escolas o máximo de pessoas possível, mesmo que não estejam preparadas para tal. Os concursos para licenciados nas diversas áreas cientifica são cada vez mais facilitados e os benefícios que estes podem retirar dessa posição são cada vez mais próximos daqueles que os professores profissionalizados gozam. Este fenómeno tem duas grandes consequências para os futuros professores com profissionalização. Primeiro que tudo a descredibilização da profissão, já que, se é apenas necessário terminar uma licenciatura em Geografia com uma média final de 10 valores para se lecionar a disciplina nas escolas, o resultado será catastrófico, tanto para as aprendizagens dos alunos como para a credibilidade de profissão. A segunda consequência e não menos importante será a descredibilização dos próprios mestrados de ensino, dado que enquanto maiores forem os benefícios para os professores não profissionalizados, essenciais para não existirem 7000 alunos sem professor, menos candidatos terão estes mestrados. 

    Se a tendência se mantiver podemos então esperar um ensino com menos qualidade,  teremos professores menos competentes e aqueles que fizerem a devida formação, estarão desmotivados por não verem reconhecido o esforço que fizeram para serem professores aptos para desempenhar as suas funções. Ainda assim, aguardamos pelas reformas feitas brevemente, muito necessárias, e que no mínimo, os estagiários de mestrados de ensino voltem a ser remunerados pelas horas que lecionam nas respetivas escolas. 



Referências bibliográficas

Mairos, O., Coelho, M., Casanova, F. (2022). Ministro da Educação admite que ano letivo vai acabar     com sete mil alunos sem, pelo menos, um professor. Rádio Renascença. Acedido em:     https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2022/06/01/ministro-da-educacao-admite-que-ano-letivo-vai-acabar-com- sete-mil-alunos-sem-pelo-menos-um-professor/286660/


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